O exorcismo de Emily Rose (2005), de Hans-Christian Schmid


De todos os filmes a que já assisti este é o que mais me chamou a atenção e que mais me despertou o interesse mesmo depois de terminado. A princípio, adoro filmes de terror que abordam feitos e entidades sobrenaturais. O assisti, então, pensando que era mais uma história aterrorizante como “O exorcista”, que fosse paralisante pelos efeitos de som e imagem. Não, não é o que parece. Aliás, como terror o filme é péssimo, gerando em nós nada mais que apenas expectativas causadas pela propaganda. Porém, é uma das melhores tramas que já vi.

A história é verídica e se inicia do final, quando se encontra em andamento o julgamento de um padre que teria matado a jovem Emily Rose (Jennifer Carpenter) durante seu exorcismo. Emily nos é apresentada como uma moça feliz e encantadora nascida de uma família de camponeses pobres, que tinha um sonho muito caro para os pais: cursar uma universidade. Mas recebe, então, uma bolsa de estudos para concretizá-lo.

A partir deste ponto, os acusadores do padre Richard Moore (Tom Wilkinson) defendem que a jovem teria apresentado sintomas de esquizofrenia e epilepsia e que estava sob observação na universidade, tomando remédios para o controle das doenças, até que as coisas começaram a dar errado. Seu amigo a tinha levado para casa, alegando que naquele lugar ela estava piorando. Lá o padre, amigo da família, ao imaginar que a moça não sofria de quaisquer doenças, mas sim de um domínio maligno, a convence a deixar de tomar seus remédios, o que fez com que ela não resistisse a uma suposta pressão realizada durante seu exorcismo.

Os relatos de Emily quando estava em observação pela universidade não foram levados em conta, visto que era tida como louca. Ela dizia a um amigo que todas as noites resistia ao demônio. Os dois logo constataram que ela apresentava características de possessão: a transformação de seus rosto e voz e a intolerância a objetos religiosos. A jovem também ia piorando mentalmente. O tal padre entra na história quando o jovem ignora as observações médicas e leva Emily para casa. Ele percebeu que os remédios a estavam deixando mais vulnerável a um ataque de forças do mal, uma vez que eram sedativos que alienavam a pessoa de sua lucidez e autogoverno, tornando-a incapaz de resistir a qualquer domínio. Suspendê-los, porém, não foi prejudicial às tais entidades, que agora já tinham se apoderado de Emily. Esses detalhes não são fundamentais, mas é preciso perceber que o caso chamou muito a atenção da mídia e do povo.

No desenrolar do filme, você perceberá que o padre sabe mais que está dizendo. Isso deve ter se evidenciado quando, no tribunal, disse que Emily, um dia, chegaria a se tornar uma santa. Isso pode ser compreendido quando finalmente conta tudo: ao ser perguntado sobre o porquê de uma "santa" ter sido possuída, respondeu com uma carta escrita pela própria jovem a ele. Nela, Emily declarava ter acordado lúcida no dia após o exorcismo mal sucedido, quando ouviu a voz da Virgem Maria chamando-a. Foi, prontamente, de encontro. Saiu de sua casa e caminhou até chegar a uma altura em que se viu fora de seu corpo, contemplando-o invicta. Perguntou à voz, em seguida, o porquê de seu sofrimento. “Ele pode acabar agora mesmo!" Disse-lhe. "Você pode escolher vir comigo ao paraíso, mas também pode optar por continuar naquele corpo. E ainda, se ficar, tudo piorará, mas muitas pessoas irão crer na existência de um mundo espiritual”. Emily, então, decidiu expandir o conhecimento sobre espiritualidade escrevendo as seguintes palavras: “Quero que se mostre ao mundo meu exemplo de possessão, para ficar evidente a existência de um Deus e de um diabo e que se busque a salvação com temor e fervor”.

A partir daí, nos fica claro que, na batalha espiritual em torno de Emily Rose, assim como de Jó, o diabo alegava não conseguir passar por mais aflições: que ela escolheria se livrar daquele sofrimento e ir ao paraíso. Deus, no entanto, preferia perder toda essa luta a ver filha sofrer contra a própria vontade.

Emily, assim como Jó, aplicou cólera a satanás ao ponto de ele querer atrapalhar o mérito que Deus tinha pela vitória, tentando, por meio de várias artimanhas, que o tal conhecimento não fosse espalhado. Dentre elas podemos citar as aparições, as atormentações às 3:00 AM, a trama da morte de um médico que praticamente comprovaria a inocência do padre, as tentativas da arquidiocese de impedir o padre de se pronunciar, o advogado de acusação, que se auto denominava “homem de fé” e a inflexibilidade na avaliação dos sintomas de Emily. Deus, porém, também teve suas formas de protegê-los: através do júri e da juíza, que impediu a zombaria maligna.

O melhor resumo do filme seriam as seguintes palavras de Jesus que se encontram em Lucas 9, 23-25:

Em seguida, dirigiu-se a todos: se alguém quer vir após mim, renegue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-me. Porque, quem quiser salvar sua vida, perdê-la-á; mas quem sacrificá-la por amor de mim, salvá-la-á. Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se vem a perder-se a si mesmo e se causa a sua própria ruína?

          Não sei se o fizeram propositalmente assim ou não mas, tirei do filme uma lição completamente diferente daquilo que pareciam estar passando.

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