O livro vai bem, obrigado


Ainda bem que é chegada à cidade uma nova bookstore. A Saraiva se mostra melhor que a Siciliano em vários aspectos, principalmente no atendimento, fator importantíssimo numa loja como esta, mas raramente atingido.

Muitas lojas conseguem oferecer um boa orientação por parte de seus funcionários. São elas as de vestuário, de perfumaria, de calçados e muitas outras, mas exigir o mesmo de uma loja que vende informações e conhecimento é pegar pesado. Contratar um pessoal no mercado de trabalho de hoje que tenha uma boa bagagem literária é, no mínimo, bastante difícil. Por isso é que até os maus entendedores são frustrados quando visitam uma. O retrato era o que se via na Siciliano, onde, para um adolescente, eram aconselhados livros como os das séries Crepúsculo e Harry Potter. Certamente, alguém que se encontra em uma fase de crescimento (mental) e o conseqüente amadurecimento, não deve continuar a ler coisas que nada acrescentam às mentes!

Enfim, àqueles que notaram que houve uma certa queda nessa orientação, paciência: as lojas daqui são novas. A bookstore precisa de um "tempo de adaptação", pelo que percebi com a Saraiva de Recife. Ela conta com um espaço até bem menos amplo que o das lojas daqui, mas, já sendo bem mais antiga na cidade, possui um atendimento eficaz, de forma a conduzir os leigos quem não entende muito da área a fazer uma boa escolha. Falo isso porque os bons leitores não necessitam da mesma orientação,  mesmo para localizar os autores, o que, venhamos e convenhamos, nunca é muito claramente exposto.

A Siciliano, mais pra quando estava perto de acabar, até que deu uma certa melhorada e, sejamos sinceros, estava até bem melhor que a atual Saraiva. Mas, como falei, essa melhora se deve a uma maior convivência com o ambiente da leitura, onde se ganha uma certa experiência e, com certeza, a muitas broncas que, é claro, surtem efeito.

Hoje se pensa entre a juventude que os livros que acrescentam algo são os chatos não ficção. Preferem, portanto, livros que eles próprios consideram fúteis (sim, eles sabem disso) não pela necessidade de imaginação, mas por não exigirem praticamente nenhum comprometimento, serem de fácil leitura. Posso dizer, porém, pela minha escassa bagagem literária, que há, sim, livros de ficção que nos acrescentam, mas que não são esses da moda.

Digo que Harry Potter e Crepúsculo são sim bons livros... infanto-juvenis, não mais do que isso. Não o aconselharia a adolescentes (foi, até, buscando o público infantil que Jo Rowling começou a escrever a história do menino bruxo). Ideal para eles é que se leia Bernard Cornwell, principal escritor britânico atualmente. As (inúmeras) crônicas não deixam de ser fictícias, porém se veem vinculadas a sociedades reais, guerras e suas possíveis articulações; se tem uma noção da historicidade dos fatos, da essência de épocas reais marcadas por conflitos, etc. Acrescentam ao jovem, portanto, uma carga histórica, social e cultural, até, muito útil.

Apesar de ser tolkieniano até o final, devo confessar que ler Tolkien não é uma boa para aqueles que precisam de uma nova mentalidade. A essência é a mesma de Harry Potter, embora consiga acrescentar muito mais pelo fato de ter sido escrito em uma outra época (O senhor dos anéis foi feito e publicado entre os anos de 1937 e 55, segundo algumas fontes) e possuir uma mensagem forte e real. Para ser bem compreendido, portanto, o leitor deve ter uma "idade mental" considerável. Ou seja, o indicaria àqueles que já passaram da fase de crescimento, tanto para que a mensagem seja bem captada como para que, não sendo entendido, não atrapalhe o amadurecimento.

Se tivesse de sugerir um livro a um adolescente, porém, sugeriria os os romances que abordam personagens reais. Esses acrescentam informações que nem os livros didáticos podem de uma maneira que estes não conseguem (atraente e envolvente), que torna tudo mais compreensível. Clareiam e explicam melhor a história, além de tudo que Bernard Cornwell consegue. Os estilos são quase idênticos; é como se déssemos nome aos personagens de Bernard. Um bom exemplo é Conn Iggulden, revelação da literatura britânica que, na série O conquistador, aborda a história do imperador mongol Gêngis Khan e, na série O imperador, de um dos maiores monarcas de todos os tempos: Júlio César, senhor do poderoso império romano. Nenhuma narrativa, mesmo com seu caráter histórico, deixa de ser fictícia, mas as histórias são recriadas à luz das mais recentes pesquisas. Tudo é baseado em fatos reais (ou melhor, no mais dentro do provável). Segue um trecho da nota histórica contida em no primeiro volume da série O imperador em que se vê o quão é saudável que se leia esse tipo de narrativa:

muito pouca informação histórica sobre os primeiros anos de Júlio César. Até onde era possível, dei a ele o tipo de infância que um garoto de uma família pouco importante em Roma poderia ter. Algumas de suas habilidades podem ser deduzidas a partir de realizações posteriores, é claro. Por exemplo, a capacidade de nadar salvou sua vida no Egito, quando tinha cinquenta e dois anos. O biógrafo Suetônio (personagem da história) disse que ele possuía grande habilidade com espadas e cavalos, além de uma resistência surpreendente, preferindo marchar a cavalgar e mantendo a cabeça descoberta em qualquer tempo. Sinto em dizer que Rênio (mestre de Júlio quando criança, época em que ainda era Caio) é fictício, mas era costume empregar especialistas em vários campos. Sabemos de um tutor vindo de Alexandria, que ensinou retórica a César...

Livros como A cabana são ideais para a leitura de pessoas já crescidas mentalmente, e não para quem ainda está nesse processo, por ter a finalidade de serem impactantes e trazerem mudanças profundas.

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